Na semana mundial do brincar, especialista afirma que, com criatividade é possível entreter os pequenos sem precisar se render ao uso excessivo das telas
Com a proliferação de smartphones e tablets, é comum ver crianças imersas em telas. Embora essas tecnologias tenham seu valor em certos contextos, é importante lembrar que as brincadeiras tradicionais têm um papel essencial no desenvolvimento infantil. A Semana Mundial do Brincar – comemorada entre 20 e 28 de maio – promove uma conscientização sobre os benefícios que as recreações trazem aos pequenos.
De acordo com um estudo do Moblie Time, sobre o comportamento das crianças brasileiras, de zero a 12 anos, em relação a tecnologia, nota-se que 44% possuem um celular próprio e passam em média quase quatro horas por dia na internet. No entanto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta para que os pais evitem a exposição de crianças menores de dois anos às telas. Já para aquelas que possuem idades entre dois e cinco anos, o tempo indicado é apenas uma hora por dia e entre 6 e 10 anos, no máximo duas horas.
Por isso mesmo que a educadora parental e neurocientista especialista em sono e comportamento infantil, Jéssica Africano, que também é mãe do Luca e da Lara, de seis e três anos respectivamente, afirma ser essencial tirar um tempo para propor opções de diversões que fujam das telas e que, de alguma forma contribuam para o desenvolvimento dos pequenos.
Segunda ela, são muitas as opções do que fazer em casa, sem precisar, inclusive, de investimento financeiro. “De pintar e desenhar, a construir brinquedos com materiais recicláveis, bem como jogos ou aulas de culinária. Existem muitas maneiras divertidas e educativas de passar o tempo com os pequenos. Sabemos que, por meio dos estímulos adequados, juntamente com suas necessidades básicas de sono, alimentação e afeto, continuará a se desenvolver da forma correta até cerca dos 30 anos de vida”, pontua a especialista, que ainda destaca o quão importante é saber que o que é oferecido precisa estar alinhado ao nível de desenvolvimento neurológico da criança.
Substituindo as telas por atividades com a família
Como nossos pais e avós se divertiam quando não havia computadores, celulares e tablets? Com muita criatividade, enfatiza a especialista: “Se resgatarmos o passado, vemos que é possível viver sem depender de tanta tecnologia. Temos que pensar que o nosso corpo é 100% conectado com a natureza. Dessa maneira, a família pode contar histórias, brincar de blocos de montar ou imitar. Isso faz com que o vínculo aumente, além de evitar problemas de superestimulação prejudiciais ao sono e ao desenvolvimento da criança”, pontua.
A criatividade é genuína da criança, desde que ela seja estimulada a pensar desde cedo. Para isso, atividades sensoriais como pintura, colagem ou ouvir histórias diferentes funcionam bem. “Ao contrário do que se pensa, telas ou brinquedos que já vem prontos roubam da criança a capacidade de criação. Por outro lado, brincar ajuda na socialização, autorregulação, criatividade, cura das emoções e na criação do pensamento lógico”, destaca Jéssica.
Carla Damiani, de 43 anos, mãe da Lorena, de 8 anos, conta que desde cedo estimula a criatividade de sua filha com brincadeiras simples, mas cheias de significado. “A Lorena ama brincar com as massinhas e slimes, então ao invés de comprar esse material pronto a gente faz em casa mesmo, e ela se diverte desde o preparo até a hora de realmente utilizar a imaginação para criar formas”, conta a assistente jurídica.
Para Carla é importante que sua filha desenvolva um raciocínio lógico. “Os jogos de cartas e tabuleiros desafiam sua concentração e também mostram à ela que não é sempre que se vence. Acredito que além do desenvolvimento cognitivo, estas brincadeiras ajudam a lidar melhor com o seu lado emocional e serão para sempre lembranças saudáveis e prazerosas”, ressalta.
Então, que tal entrar no clima da Semana Mundial do Brincar, separar um tempinho e desenvolver alguma atividade educativa com seus filhos? A especialista Jéssica Africano separou cinco brincadeiras que podem garantir a diversão e a reunião da família. Confira:
ESCONDE-ESCONDE: Nesse jogo, o nível de dificuldade deve acompanhar a faixa etária dos pequenos. É importante definir o ambiente onde ela pode se esconder e valorizar o esforço da criança para procurar e ao se esconder.
JOGO DE MÍMICA: Sentados em círculo, peça a criança para escolher um cartão com a palavra (sussurre em seu ouvido, se ela ainda não souber ler). Sem usar a fala, apenas gestos, os outros terão que adivinhar o que é. O primeiro que adivinhar, será o próximo a fazer a mímica e assim sucessivamente. Para os menores, mímicas de animais funcionam bem.
IMITAÇÃO: São necessárias duas pessoas, uma de frente para a outra, onde uma delas é o espelho. Na medida em que a primeira faz um movimento ou uma expressão facial, o espelho deve copiar exatamente a ação, da melhor maneira possível. Vale também utilizar músicas para estes momentos. “Para os pequeninos, acompanhar o ritmo batendo palmas ou dançando pode ser muito divertido”, completa Jessica..
CAÇA AO TESOURO: Para todas as idades, caça ao tesouro é um jogo em que os participantes devem seguir pistas para encontrar sua recompensa. O grande prêmio pode ser algo que a criança goste.
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: Convide as crianças para ouvir histórias ou para que juntos construam a sua. Pode-se propor uma contação colaborativa, em que a história é criada em conjunto.
Com tanta correria e sobrecarga com as inúmeras tarefas, e sem rede de apoio, as famílias buscam cada vez mais a companhia das telas ou bens materiais para suprir suas faltas. “A criança é a representação mais pura e simples do ser humano, ela não precisa de tantos excessos, apenas o brincar e ter suas necessidades supridas: amor, sono, alimentação e segurança. Isso basta”, conclui a especialista.